Por Marcio Gaspar
Ele bebia demais, vestia no palco as mesmas roupas surradas e mal ajambradas que usava no dia-a-dia, nunca se preocupou em fazer média com o esquemão do show-biz e nem era amiguinho dos jornalistas de música. Talvez por tudo isso, o nome de Rory Gallagher quase nunca seja citado entre os maiores guitarristas de blues e rock. Mas o cara foi sensacional. Em seus curtos 47 anos de vida (1948–1995), o irlandês da cidadezinha de Ballyshannon fez e aconteceu: entre uma garrafa e outra de bourbon, lançou ótimos discos e incendiou platéias, principalmente européias, com a pegada forte e original da velha e descascada Fender Stratocaster (modelo 1961), guitarra que tornou-se sua marca registrada. Para Eric Clapton, “Rory foi o cara que me trouxe de volta para o blues”. Para Brian May (ex-Queen), “Devo a ele o som que faço”. E para Johnny Marr (ex-Smiths), “Foi ouvindo Rory que resolvi ser um guitarrista e viver disso”.
A carreira profissional de Rory Gallagher começou em 1966, quando formou o Taste. Em pouco tempo, o trio fez seu nome na cena rock da Inglaterra. Virou ‘banda-residente’ do Marquee Club de Londres, lançou quatro discos, fez o show de abertura na histórica noite de despedida do Cream no Royal Albert Hall, foi o ‘supporting act’ para a turnê americana da efêmera superbanda Blind Faith (de Clapton e Steve Winwood) e terminou em 1970, com um show no Festival da Ilha de Wight (que foi, digamos, a versão britânica de Woodstock).
A década de 70 foi a mais produtiva para Rory Gallagher. No período, como artista-solo, lançou dez álbuns, com destaque para os excelentes “Live in Europe” (1972), “Blueprint” e “Tattoo” (ambos de 73), “Irish Tour” (1974) e “Calling Card” (de 76). Foi também nos anos setenta que Gallagher foi convidado a substituir Mick Taylor nos Rolling Stones e Ritchie Blackmore no Deep Purple, mas preferiu dedicar-se às suas paixões originais: além, é lógico, do bourbon, o blues (tocou com os históricos bluesmen Albert King e Muddy Waters), o rock’n roll básico (gravou com Jerry Lee Lewis) e a música irlandesa tradicional (participação especial nos discos do violinista Joe O’Donnell e do cantor Lonnie Donegan). Nos anos 80, Rory Gallagher diminuiu um pouco o ritmo e gravou apenas dois discos – os menos inspirados “Jinx” (1982) e “Defender” (1987); seus shows, no entanto, continuaram concorridíssimos por toda a Europa. E após o lançamento de “Fresh Evidence”, em 1990, Rory embarcou em uma longa e bem sucedida turnê pelos Estados Unidos.
Mas o excesso de álcool, agravado pela quantidade de tranquilizantes que tomava pra encarar seu cada vez mais forte medo de avião, já debilitavam seriamente a saúde de Rory Gallagher e sua própria capacidade como artista de palco e de estúdio. Em seu último show, dia 10 de janeiro de 1995 na Holanda, já era uma pálida e triste imagem do que fora um dia. Internado para um transplante de fígado, acabou pegando uma infecção hospitalar que o levou à morte, em 14 de junho daquele ano. Em sua cidade-natal, Ballyshannon, há um Museu Rory Gallagher e um Teatro Rory Gallagher. E em Dublin, um pub outrora frequentadíssimo pelo músico, mantém uma réplica da famosa guitarra Fender em um canto nomeado ‘Rory’s Corner’. Para quem nunca ouviu falar dele, sugiro que procure, além dos Lps e CDs aqui mencionados, pelo ótimo DVD “Irish Tour ‘74”, que há pouco tempo comprei por R$ 9,90 nas Lojas Americanas. Ou que dê uma busca no Google, que tem alguns vídeos bem legais de Rory Gallagher. Entre eles, esse aí de baixo, de uma apresentação na TV inglesa em 1973. A música é “Walk on Hot Coals”, faixa original do “Blueprint” que mencionei lá em cima. A gravação é cortada pouco antes do final mas… what the hell! That’s the man at his best!
Site Oficial: www.rorygallagher.com
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Fotos: Divulgação